03 agosto 2005

"Arvore" Criação Gabriela Albergaria

"Arvore" Criação Gabriela Albergaria

A minha Sogra e as Outras

Apresentação


Devido à presença da nossa estrela na TV, e não querendo deixar passar ao lado tal evento, resolvemos homenageá-la com uma pequena peça que não deve ser encarada como uma obra de Sacuspier, mas sim como um filme de Valterdisnei.
A realização ficou a cargo da sobejamente conhecida Emijota, coordenadora de actores das novelas televisivas da Euroneves, e conta com a participação da famosíssima Têta Bosque e do nosso generoso amigo africano o Quimanda, o prólogo será lido pelo caríssimo Richard Aftarzarden.



O Bosque de plástico


Mimi Reciclagem é uma artista que tem vindo nos últimos anos, a desenvolver uma linha de intervenção que toma como sua fonte de inspiração e tema, o lixo de plástico que as pessoas deitam fora nas ruas de Berlim.
Recorrendo à fotografia, ao desenho e à instalação, a artista tem vindo a construir modelos de situações e a investigar histórias dos jardins de plástico.
A colonização e as testemunhas trazidas para a Europa, como as caixas dos hamburgueres do Mac Donalds e os paus dos gelados da Olá, proporcionaram à artista um forte conhecimento oriundo dos recônditos da sua infância, permitindo-lhe avançar para uma visão do pequeno para o resto do mundo e arredores.
O jardim de plástico, criado na Europa e a partir do Séc.20, define-se com uma identidade neo-natural vinda de processos históricos, sociais e políticos.
Por vezes essas entidades que nos parecem estáticas, são de facto fluidos, fungos, bactérias, resultantes de processos de contaminação. Daí a necessidade das estufas como a que veremos nesta sala de exposições.
O projecto de Mimi Reciclagem dialoga com toda a gente, veja-se quem é que nunca atirou uma garrafa de plástico para o chão, para a ver renascer ou a esmagou entre os dedos, dando origem pela metamorfose e ou osmose, a uma linda flor.

Richard Aftazarden- Não percebo nada disto.



A Entrevista


Têta: Bom Dia Mimi
Mimi: Bom Dia, tás boa?Têta Bosque?
Têta: Obrigada e tu?
Mimi: Eheh, eu também.
Têta: Qual o fascínio deste teu trabalho?
Mimi: O grande fascínio é ver aparecer as flores, não é?
Têta: Fascina-te a natureza selvagem?
Mimi: O selvagem, já não temos, esse já fugiu. O que é importante é saber o que que é a natureza e não o que se extrai dela, tipo: batatas, cebolas, alhos, frutos, comida e, tatatata....
Têta: Esta zona de Belém, é cheia de sinais, tem muitos plásticos coloridos.
Mimi: O cultivo das plantas é bom, porque estas não precisam de água, pronto, as plantas estão sempre em bom estado.
Têta: Fala da tua árvore.
Mimi: Isto não é uma árvore, isto é uma coisa qualquer, um desenho, isto é falso, isto não existe, não é?isto é uma construção, percebes? A Árvore está morta, morta...
Têta: E o que és tu?
Mimi: Eu, bem, eu sou uma Engenheira, porque eu tenho que tratar de ver se isto não cai em cima da cabeça das pessoas.
Têta: É difícil explicar o teu trabalho?
Mimi: Não. Isto é uma aventura e se fores visitar o meu site, eu tenho filmes para veres como eu me matei a trabalhar, na recolha de materiais, junto aos contentores amarelos, debruçada sobre, enfim, tatatata...Eu estou sempre a refazer o sentir, porque a realidade não interessa para nada porque eu estou sempre a mentir, eu sou uma mentirosa.
Têta: Como fotografas?
Mimi: Tiro fotografias a fingir, faz de conta que tiro, mas não tiro, é tudo falso, às vezes não ponho rolo na máquina, porque ela é digital. Eu escolho uma zona para fotografar e a máquina é que fotografa eu vou pintando as paredes, a zona, não é? Eu divirto-me muito a pintar aqui e acolá, como qualquer pessoa sabe fazer, mas depois fico obcecada, .percebes?
Têta: Como trabalhas?
Mimi: É sobre tensão, sim só assim se constrói e eu tenho tantas fontes e possibilidades que tudo equacionada toma forma.
Têta: No teu apartamento tens plantas?
Mimi: Sim, claro e falo com elas, porque é importante arrancar-lhe as folhas, tipo malmequer, tás a ver?para ver como vai ser a minha vida daqui a 100 anos. É muito interessante a união dos interesses, porque eu sou uma ignorante, eu não percebo nada de jardins, eu sou de Artes.
Têta: Qual é o jardim ideal?
Mimi: O jardim ideal é uma coisa qualquer cá dentro no nosso interior, claro que eu estou mais perto dele, porque ele está cá dentro , dentro de mim.
Têta: Desculpa, ele?
Mimi: Sim, ele o jardim, Ah!...não era disso que estávamos a falar?


Diálogo com o trabalhador...


Mimi: Desculpe,como se chama?
Quimanda: Quimanda Sora
Mimi Desculpe?!Quem manda sou eu, é possível serrar um pouco aquele ramo?
Quimanda: Se calhar não é possível dama.
Mimi: A sério?não acredito!então como vamos fazer?
Quimanda: O melhor é vermos do outro lado.
Mimi: Oh! a sério, veja lá se é possível.
Quimanda: A dama é teimosa, não vê que aqui não aparafusa por causa do nó?
Mimi: Do nó?
Quimanda: Sim. Chata que a Dama é! .E já tenho um nó na garganta mas é de sede.
Mimi: Vá lá, só mais um bocadinho, tome lá a garrafa, pronto.
Quimanda: Vou varrer agora este material aqui.
Mimi: Espere, espere,não pode pôr para o lixo estes pedaços que eu preciso deles.
Quimanda: Só se for pra colar com escupe.
Mimi: Oh meu lindo temos que aproveitar tudo o que a natureza nos dá. E eu vou aproveitar tudo ou eu não me chame Mimi Reciclagem.
Ai!!!maezinha!!!estes trabalhadores, não é???.

FIM

Poemas Coloridos à Solta

Pensamentos Soltos

Para considerar alguém como um amigo,
É preciso muito, muito tempo,coloco a fasquia muito alta...
Uns são colegas, outros conhecidos,em todo o lado deixo marca...

Mas amigos, esses, guardo-os lá no fundo,
Nas profundezas do meu ser...
E preocupo-me com eles, e protejo-os, e cuido deles, uma causa a defender...

Nem que seja através de janelas virtuais,
Quando sei que precisam de mim...
Seja homem ou mulher, preto, amarelo, marfim...

Tesouros que brilham no escuro...

Poemas Coloridos à Solta

Meu Rio

O coachar das rãs,
Naquele rio de lua,
As palavras vãs,
A memória só sua.

Aquele Rio, meu Rio,
Das lavadeiras e da infância,
De prata como um fio,
Com bolinhas de sabão de criança.

A nora girava, girava,
Num ritmo constante,
O tempo que não parava,
E o seu fim distante.

Aquele Rio, meu Rio,
Que recordo com saudade,
Agora é poluido,
E envelheceu na idade.

Poemas Coloridos à Solta

Abriram a Porta

Abriram a porta,
Fiquei contente...
Sem conhecerem,
De modo conveniente...

Alguma gente é assim,
É assim sem cuidado...
Abre as portas enfim,
Lançando um simples dado...

Arrependem-se depois,
Quando algo não agrada...
Somando dois mais dois,
Sem ouvir e respeitar palavra...

Nem intimidade...
Nem privacidade...
Nem liberdade...

A quem um dia...
Abriram a porta...
A quem um dia...
A vão fechar...

Contos P'ra Contar

Zizi no Campo



No ano que se seguiu foi impossível para os meus pais irem para o Algarve por motivos profissionais e então as minhas férias foram passadas no campo.
Sabia nadar muito mal e por isso inscrevi-me em aulas de natação na piscina da terra que era fluvial, ou seja era montada no rio durante os meses de Verão. Quem me ensinou a nadar foi a D. Glória que era nadadora do clube e tinha muito jeito para ensinar a miudagem.
Foi nessa altura, que tive a companhia de uma prima que morava em Santarém. Ela veio para minha casa passar as férias.
Eu e a Fá, diminutivo de Fátima, começamos por ir à aula de natação que era de uma hora, mas depressa essa hora se transformou em sete horas por dia.
Resolvíamos levantar-nos por volta das nove horas e às dez horas já andávamos a nadar até cerca das treze horas. Vínhamos almoçar e seguidamente íamos passear ou simplesmente jogávamos às cartas à espera que dessem as dezasseis horas para irmos novamente nadar e apenas voltávamos às vinte horas para jantarmos.
É evidente que não andávamos só a nadar e disso é exemplo algo que vos contar.
Eu e a Fá conjuntamente com alguns amigos a Zé, o Tó e o Alberto resolvemos formar um clube de férias. Jurámos fidelidade aos compromissos e à amizade e todos os dias tínhamos planos novos.
Houve um dia que resolvemos fazer uma caminhada pela beira do rio até um parque florestal. Este tinha balneários com WC mesas de piquenique, uma ponte e ficava a cerca de cinco KM da piscina.
Mal chegámos, sentámo-nos, aproveitámos para comer qualquer coisa, quando ouvimos ruidos de passos. Levantámo-nos e escondemo-nos atrás de um grande carvalho e começamos a ouvir uma conversa.
-Ei! Pablo fazemos negócio ou não?- perguntava um indivíduo de farto bigode muito moreno e vestido todo de preto.
-Não sei ainda não me decidi Emanuel- respondeu uma figura parecida com a primeira.
Quietos que nem ratos, escutámos a conversa daqueles dois e chegámos à conclusão que eram ciganos contrabandistas.
Entretanto e sem nos apercebermos muito bem, a discussão ficou acesa e um deles resolve sacar de uma navalha e apontou-a para o outro.
Chegaram nesse instante não se sabe donde mais alguns ciganos e apercebemo-nos que eram de grupos diferentes. Com medo, começamos a fugir mas qual não foi o nosso espanto deparámos com dois.
Claro que nos prenderam os braços e iniciaram um inquérito, nós dissemos que tínhamos vindo ali fazer um piquenique, que não queríamos arranjar problemas, apenas tinham de nos deixar ir embora.
Não quiseram saber dos nossos argumentos e simplesmente nos fizeram prometer que ficaríamos ali guardados por dois deles até os outros estarem longe.
Ali ficamos à espera que nos deixassem partir e exigiram então que fizéssemos o caminho de volta a nadar rio abaixo.
Assim fizemos eu, a Fá, a Zé o Tó e o Alberto. Mal chegámos à piscina, fomos direitinhos contar à D. Glória e a dois amigos nossos ciganos que pertenciam à equipa de natação. O Chimenes e o Hernandez, assim se chamavam os nossos amigos, acompanharam-nos à policia para contar o sucedido. Graças a nós e aos nossos colegas de equipa, a policia conseguiu interceptar o bando e prenderam-nos a uns escassos vinte KM.
Nessa noite foi festa da rija pois os nossos pais deixaram-nos ir festejar o acontecimento com os familiares dos nossos amigos à boa maneira cigana. O tempo estava magnifico e o escuro da noite era rasgado pelo crepitar das chamas da fogueira. O Chimenes tocava viola, as ciganas do grupo dançavam e tocavam castanholas e nós acompanhávamos o Hernandez na dança a tentar imitar os outros.
Hoje, quando se fala de problemas com etnias ciganas, lembro-me desta história e podemos chegar à conclusão que há ciganos bons e outros maus assim como nós e se formos compreensivos é possível a união entre raças e culturas diferentes. Temos é que respeitar as diferenças e gozarmos em conjunto o bom da vida.

Aos fins de semana não íamos para a piscina mas sim para casa do pai do meu cunhado numa aldeia perto. Aí almoçávamos debaixo das macieiras e comíamos ameixas de cima da árvore escolhendo as mais apetitosas.
Eu e a Fá dávamos grandes passeios de bicicleta naqueles prados e matos acompanhadas sempre da minha cadela chamada Capri.
Uma bela tarde de Domingo, perdemo-nos no mato e andámos sempre em círculos só voltando à hora do jantar quando já toda a gente nos procurava. O que nos safou foi o poder de orientação da Capri que nos trouxe de volta e seguras.

Na segunda-feira seguinte, voltámos às nossas brincadeiras na piscina mas nunca mais nos afastámos devido ao susto que tinhamos apanhado com os contrabandistas.
Ficavamo-nos apenas pelas redondezas a explorar o fundo do rio e andar de canoa ou à pesca. Algo para que eu não tinha muito jeito, reparem que logo no primeiro lançamento que fiz o anzol foi parar à outra margem do rio, ficou agarrado a um arbusto, a cediela saiu toda do carreto e a cana quase que partia.
Essa semana chegou ao fim e no Sábado de manhã quando voltávamos da piscina e íamos a atravessar a ponte vimos grande algazarra na praça junto ao rio.
Perguntávamo-nos o que era aquilo e entre confusão de gente aqui e acolá disseram-nos que tinham posto fogo a uma sede de um partido político.
Por acaso um partido do qual eu não era simpatizante sequer mas achei aquilo lamentável.
Os Bombeiros e a Policia intercederam e conseguiram apagar o fogo e acalmar a multidão que dispersou.
Não acham horrível as pessoas recorrerem à violência só porque não concordam com as ideias de outro grupo político?.
Eu acho odiável e perigoso.
Enfim com histórias daqui e dali as férias chegaram ao fim, a Fá voltou a Santarém e eu senti que o Outono estava a chegar, a piscina fechara e só reabria no ano seguinte.
Para rematar o mês de Setembro, chegou um tractor de lenha a casa dos meus pais e eu e os meus amigos e vizinhos alguns angolanos e negros ajudamos a arrumá-la.
A minha mãe para nos compensar do trabalho, resolveu oferecer-nos um grande lanche que nós devorámos com apetite.
As férias chegaram ao fim, venham as aulas já tenho saudades.