03 agosto 2005

Contos P'ra Contar

Zizi no Campo



No ano que se seguiu foi impossível para os meus pais irem para o Algarve por motivos profissionais e então as minhas férias foram passadas no campo.
Sabia nadar muito mal e por isso inscrevi-me em aulas de natação na piscina da terra que era fluvial, ou seja era montada no rio durante os meses de Verão. Quem me ensinou a nadar foi a D. Glória que era nadadora do clube e tinha muito jeito para ensinar a miudagem.
Foi nessa altura, que tive a companhia de uma prima que morava em Santarém. Ela veio para minha casa passar as férias.
Eu e a Fá, diminutivo de Fátima, começamos por ir à aula de natação que era de uma hora, mas depressa essa hora se transformou em sete horas por dia.
Resolvíamos levantar-nos por volta das nove horas e às dez horas já andávamos a nadar até cerca das treze horas. Vínhamos almoçar e seguidamente íamos passear ou simplesmente jogávamos às cartas à espera que dessem as dezasseis horas para irmos novamente nadar e apenas voltávamos às vinte horas para jantarmos.
É evidente que não andávamos só a nadar e disso é exemplo algo que vos contar.
Eu e a Fá conjuntamente com alguns amigos a Zé, o Tó e o Alberto resolvemos formar um clube de férias. Jurámos fidelidade aos compromissos e à amizade e todos os dias tínhamos planos novos.
Houve um dia que resolvemos fazer uma caminhada pela beira do rio até um parque florestal. Este tinha balneários com WC mesas de piquenique, uma ponte e ficava a cerca de cinco KM da piscina.
Mal chegámos, sentámo-nos, aproveitámos para comer qualquer coisa, quando ouvimos ruidos de passos. Levantámo-nos e escondemo-nos atrás de um grande carvalho e começamos a ouvir uma conversa.
-Ei! Pablo fazemos negócio ou não?- perguntava um indivíduo de farto bigode muito moreno e vestido todo de preto.
-Não sei ainda não me decidi Emanuel- respondeu uma figura parecida com a primeira.
Quietos que nem ratos, escutámos a conversa daqueles dois e chegámos à conclusão que eram ciganos contrabandistas.
Entretanto e sem nos apercebermos muito bem, a discussão ficou acesa e um deles resolve sacar de uma navalha e apontou-a para o outro.
Chegaram nesse instante não se sabe donde mais alguns ciganos e apercebemo-nos que eram de grupos diferentes. Com medo, começamos a fugir mas qual não foi o nosso espanto deparámos com dois.
Claro que nos prenderam os braços e iniciaram um inquérito, nós dissemos que tínhamos vindo ali fazer um piquenique, que não queríamos arranjar problemas, apenas tinham de nos deixar ir embora.
Não quiseram saber dos nossos argumentos e simplesmente nos fizeram prometer que ficaríamos ali guardados por dois deles até os outros estarem longe.
Ali ficamos à espera que nos deixassem partir e exigiram então que fizéssemos o caminho de volta a nadar rio abaixo.
Assim fizemos eu, a Fá, a Zé o Tó e o Alberto. Mal chegámos à piscina, fomos direitinhos contar à D. Glória e a dois amigos nossos ciganos que pertenciam à equipa de natação. O Chimenes e o Hernandez, assim se chamavam os nossos amigos, acompanharam-nos à policia para contar o sucedido. Graças a nós e aos nossos colegas de equipa, a policia conseguiu interceptar o bando e prenderam-nos a uns escassos vinte KM.
Nessa noite foi festa da rija pois os nossos pais deixaram-nos ir festejar o acontecimento com os familiares dos nossos amigos à boa maneira cigana. O tempo estava magnifico e o escuro da noite era rasgado pelo crepitar das chamas da fogueira. O Chimenes tocava viola, as ciganas do grupo dançavam e tocavam castanholas e nós acompanhávamos o Hernandez na dança a tentar imitar os outros.
Hoje, quando se fala de problemas com etnias ciganas, lembro-me desta história e podemos chegar à conclusão que há ciganos bons e outros maus assim como nós e se formos compreensivos é possível a união entre raças e culturas diferentes. Temos é que respeitar as diferenças e gozarmos em conjunto o bom da vida.

Aos fins de semana não íamos para a piscina mas sim para casa do pai do meu cunhado numa aldeia perto. Aí almoçávamos debaixo das macieiras e comíamos ameixas de cima da árvore escolhendo as mais apetitosas.
Eu e a Fá dávamos grandes passeios de bicicleta naqueles prados e matos acompanhadas sempre da minha cadela chamada Capri.
Uma bela tarde de Domingo, perdemo-nos no mato e andámos sempre em círculos só voltando à hora do jantar quando já toda a gente nos procurava. O que nos safou foi o poder de orientação da Capri que nos trouxe de volta e seguras.

Na segunda-feira seguinte, voltámos às nossas brincadeiras na piscina mas nunca mais nos afastámos devido ao susto que tinhamos apanhado com os contrabandistas.
Ficavamo-nos apenas pelas redondezas a explorar o fundo do rio e andar de canoa ou à pesca. Algo para que eu não tinha muito jeito, reparem que logo no primeiro lançamento que fiz o anzol foi parar à outra margem do rio, ficou agarrado a um arbusto, a cediela saiu toda do carreto e a cana quase que partia.
Essa semana chegou ao fim e no Sábado de manhã quando voltávamos da piscina e íamos a atravessar a ponte vimos grande algazarra na praça junto ao rio.
Perguntávamo-nos o que era aquilo e entre confusão de gente aqui e acolá disseram-nos que tinham posto fogo a uma sede de um partido político.
Por acaso um partido do qual eu não era simpatizante sequer mas achei aquilo lamentável.
Os Bombeiros e a Policia intercederam e conseguiram apagar o fogo e acalmar a multidão que dispersou.
Não acham horrível as pessoas recorrerem à violência só porque não concordam com as ideias de outro grupo político?.
Eu acho odiável e perigoso.
Enfim com histórias daqui e dali as férias chegaram ao fim, a Fá voltou a Santarém e eu senti que o Outono estava a chegar, a piscina fechara e só reabria no ano seguinte.
Para rematar o mês de Setembro, chegou um tractor de lenha a casa dos meus pais e eu e os meus amigos e vizinhos alguns angolanos e negros ajudamos a arrumá-la.
A minha mãe para nos compensar do trabalho, resolveu oferecer-nos um grande lanche que nós devorámos com apetite.
As férias chegaram ao fim, venham as aulas já tenho saudades.

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