23 julho 2008

Poesia de Vanda Garcez

"Pontas Soltas"


Pontas soltas

como ondas revoltas

deste mar

para onde estou a olhar


Pontas soltas

como chicotes a estalar

que a carne nos pode cortar

e assim tanto nos magoar


Pontas penduradas

pela vida espalhadas

é uma tortura silenciosa

em si muito perigosa


Pontas adiadas

essências complicadas

não vale a pena continuar

sem essas pontas amarrar.



"Solta as Amarras"


Enfrenta o mundo

vai até ao fundo

não deixes nada por resolver

pois só te irá prender


Solta as amarras

crava as tuas garras

luta por merecer

o dia após o amanhecer


Põe o sol no teu horizonte

atravessa aquela ponte

caminha céu e terra

ganha a tua guerra


No mar não te irás afogar

pois já aprendeste a nadar

com pé firme caminhas

e lês nas entrelinhas


Tu és de coragem

para enfrentar qualquer viagem

abrir as asas - voar

e o teu caminho continuar.


"Vive a Emoção"


O cheiro da tua pele

ora é a mel ora a fel

do que tens medo

qual é o teu segredo?


Porque entras em contradição

Será do teu coração

Tens medo de te envolver

e que isso te faça sofrer?


São memórias de um passado

que tem que ser ultrapassado

deixa-te levar

corre o risco de voltar a amar


Sabes que não existe a perfeição

só mesmo viver a emoção

para a tua vida enriquecer

e por dentro te fazer crescer


Não calcules cada passo

Vês como eu faço?

Deixo viver o que sinto

Para mim eu não minto.

11 novembro 2006

Contos Infantis

Uma Tartaruga Chamada Genoveva

A Ritinha fazia anos. Era o dia do seu sexto aniversário. Os pais deram-lhe uma tartaruga e a irmã, a Joana, pôs-lhe o nome de Genoveva.
A casa da Ritinha tinha um terraço e no Verão os pais montavam uma piscina onde ela dava pequenos saltos e chapinhava na água com a sua tartaruga.
Sim. ARitinha, rabica, punha a Genoveva a nadar com ela.
Mas passou o Verão, ficou frio e a Genoveva limitava-se a estar no seu pequeno espaço e ficou triste, deixou de comer.
Certo dia, estando à mesa com a família, a Ritinha ouviu um espirro, e outro e outro, e disse:
- A Genoveva espirrou.
- Dah! não pode ser, és mesmo tótó, as tartarugas não espirram – disse a Joana.
- Mas espirram, mas espirram, feia – disse a Ritinha.
- Parem lá com essa discussão – disse o pai.
- Oh Ritinha, as tartarugas não parece que espirrem – disse a mãe.
- Estás com sono – disse o pai.
- Não estou nada – disse a Ritinha zangada. É que ela não gostava que lhe dissessem que tinha sono. Ter sono significava dormir e ela gostava de estar sempre acordada e brincar muito, fazer desenhos e cantar.
Pediu licença e foi embora para o quarto a cantar as cantilenas da meninice que uma vizinha lhe tinha ensinado.


Cantilenas da Meninice




O Arco-Iris da Ritinha

A Rita, rabica,
carapau,
sardinha frita...
Que pula e dança,
e no cabelo,
a franja...
Laço côr de rosa,
o colar é azul,
a pulseira é laranja...
É verde a camisola,
as calças são lilás,
e lá vai ela a cantar,
e tanto se lhe faz...
Este Arco-Iris,
a Ritinha fez pra mim,
num papel qualquer,
mas foi dado com um XI...


Adormeceu finalmente e sonhou com a Genoveva e o arco iris da canção.
Quando acordou no outro dia bem cedo, foi para a cozinha onde a mãe estava a preparar o pequeno almoço.
- Bom dia mãe – disse a Ritinha dando-lhe um beijo.
- Bom dia, Ritinha, dormiste bem? – perguntou a mãe.
Atchim...atchim...
- Ritinha, estás constipada, bem te disse para não andares à chuva – disse a mãe.
- Não fui eu que espirrei, foi a Genoveva – afirmou a Ritinha.
- Ritinha, já te avisei, não te desculpes com a Genoveva – disse a mãe.
- Não fui eu. Porque é que ninguém acredita em mim? – questionou a Ritinha.
-A Genoveva está doente, não come e agora está constipada – disse a Ritinha.
- Ritinha, as tartarugas hibernam e por isso não comem, ficam, como se estivessem a dormir, na Primavera vais vêr que torna a ficar activa – disse a mãe.
- Está doente e pronto – disse a Ritinha amuada.
Atchim...atchim...
- Realmente espirrou – disse a mãe que estava agora bem perto doa casinha da Genoveva.
- Eu disse, eu disse, voces não acreditavam – respondeu a Ritinha com ar importante.
-Que havemos de fazer? Concerteza temos que a levar ao veterinário – disse a mãe.
- Levá-la aonde? – perguntou a Ritinha sem perceber.
- O Veterinário é o médico dos animais – explicou a mãe.
- Ah, está bem. Quando vamos? – perguntou a Ritinha.
- Vamos vêr se podemos ir logo à tarde – disse a mãe.
- Bom dia – disse a Joana que tinha acordado há pouco.
- Bom dia Joana – disse a mãe.
- Sabes uma coisa Joana? Eu tinha razão, a Genoveva espirra e está doente, a mãe também ouviu – disse a Ritinha.
- Outa vez a mesma conversa? És mesmo teimosa – disse a Joana.
- É verdade, eu também ouvi – disse a mãe.
Atchim...atchim...
- Ouviste agora, Joana? – perguntou a Ritinha.
- É a Genoveva, é – respondeu a Joana admirada.
-Está decidido, vamos logo ao veterinário – disse a mãe.
Assim foi. À tardinha foram as três ao veterinário. Chamava-se Dr. Hermenegildo e a Ritinha olhava para ele admirada porque não conseguia dizer tal nome.
- Boa tarde, então o que vos traz aqui? – perguntou o médico dos animais.
- É a Genoveva, a tartaruga das minhas filhas, ela espirra – disse a mãe.
- Das minhas filhas, não, minha, porque vocês não acreditavam em mim – disse a Ritinha refilona.
- As tartarugas também ficam doentes – disse o Doutor.
- Vamos lá ver então a Genoveva – disse novamente o Doutor.
O Dr. Hermenegildo, dava voltas e reviravoltas à tartaruga mas de forma muito cuidada, parecia perceber do assunto.
- Em primeiro lugar tenho que lhes dar uma novidade. Como disseram que se chamava a tartaruga? – perguntou o Doutor.
- Genoveva – disse a Ritinha toda apressada.
- Pois é, mas vão ter que lhe mudar o nome, porque ela é um ele, a Genoveva é uma tartaruga macho.
- A sério? – exclamaram as três ao mesmo tempo.
- Que nome lhe havemos de dar agora? – perguntou a Ritinha, preocupada.
- E se fosse Gaspar? – perguntou a mãe.
- Pode ser – disse a Joana.
- Hum! Não gosto de Gaspar – disse a Ritinha.
- Gaspar, é engraçado Ritinha – disse o Doutor.
- Está bem, pode ser – disse a Ritinha um pouco contrariada por não se ter lembrado de nome nenhum.
- O problema é que o Gaspar, parece estar com uma pneumonia, por isso espirra e não se alimenta – disse o Doutor.
- Eu não estou muito habilitado a tratar deste tipo de animais, ainda para mais é um dinossauro, viveu quando eles viveram, mas pode ser que resulte, com a ajuda de todos – disse novamente o doutor.
- Vão à farmácia buscar este antibiótico – disse o Doutor enquanto passava a receita.
- Mas tem que lhe ser dado por um conta-gotas, porque o Gaspar ainda é pequeno e pode engasgar-se com a quantidade de líquido – recomendou o Doutor.
- Está bem eu trato dele – disse a Ritinha toda importante.
Após a mãe ter pago a consulta, ter ido à farmácia buscar o remédio, a Ritinha não largou por um segundo o Gaspar. Não queria que ele morresse e estava muito preocupada.
Nos dias seguintes e com a acção do antibiótico o Gaspar começou a comer novamente. Não muito, mas já dava para notar que estava mais activo. O pai depois de ter sabido da história, tinha comprado uma lâmpada que colocou na casinha, aquecendo assim o ambiente onde o Gaspar estava.
- O Gaspar está quase bom – disse a Joana que também se preocupava.
- Podíamos arranjar agora uma Genoveva, que achas Ritinha? – perguntou a Joana.
- Que boa ideia – sorriu a Ritinha.
- Como saberemos que vamos comprar uma Genoveva? – disse o pai.
- Podemos perguntar ao Dr. Hermenegildo – disse a mãe.
- Perguntar o quê? – perguntou a Ritinha.
- Como se distingue se é menino ou menina tartaruga – disse a mãe a sorrir.
- É verdade, podemos fazer isso – disse a Ritinha.
- Perguntamos ao Dr, hum...hum...Herme...gildo..., ou lá o que é, é o doutor dos animais – gaguejou a Ritinha.
Todos se riram porque a Ritinha não conseguia dizer o nome.
Afinal de contas o que realmente importava é que a Ritinha tinha descoberto, que a Genoveva que era Gaspar, estava doente e conseguiu tratar dele com muito carinho, como todos os seres vivos merecem.

O Dinossauro Chamado Evaristo


Eduardo andava a brincar no jardim lá de casa.
Que dia bonito estava!
O Sol sorridente, passava com os seus fios brilhantes por entre esse jardim de encantar, onde há árvores, canteiros de flores, rodeados de pedras grandes e quase transparentes.
No centro de tudo, o Eduardo tem uma árvore preferida, a que deu o nome de Anastácia.
- Bom dia Anastácia – disse o Eduardo, cheirando o ar que Anastácia tinha perfumado com o seu aroma.
- Vvvomm diaaa – disse Anastácia, sussurrando com o vento.
- Que tens tu aqui, ao pé de ti? – perguntou o Eduardo, olhando para o que parecia ser um ovo grande.
- Não seeiiii, pensavvvaaa que era uma pedra bonitaaa – respondeu Anastácia.
- Deixa ver – disse o Eduardo abraçando o ovo.
- Tchq...Tchq... – ouviu-se o ovo.
- Que barulho é este? – perguntou o Eduardo a si mesmo.
- Qrac...Qrac... – ouviu-se o ovo.
- Olha está a rachar – disse o Eduardo a Anastácia.
- Hum! Parecceee que siimm - respondeu Anastácia que só sentia, porque não tinha olhos, nem boca, nem ouvidos.
- Ploft...Ploft... – ouviu-se o ovo.
- Abriu-se, Anastácia, abriu-se, sentiste? – disse o Eduardo.
- Siiimmm...- respondeu Anastácia.
- Que é isto? Parece um dinossauro – disse o Eduardo.
- Éééé...Éééé... – disse Anastácia.
Eduardo tirou o seu casaco, estava um pouco de frio e enrolou o dinossauro bébé que tremia de frio.
- Estás bem? Sim? – perguntou o Eduardo ao dinoussauro.
- Brbrbr... – ouviu-se o dinoussauro.
- Tenho que te dar um nome. Que nome havemos de lhe dar Anastácia? – perguntou o Eduardo.
- Talvezzz Evaristooo – afirmou Anastácia.
- Mas ele é tão pequeno e o nome é tão grande! – disse o Eduardo.
- Maasss ele vvvaaiiii ficarrr muuuiiito graaannddeee – respondeu Anastácia.
- Achas? E que posso eu fazer com ele? Onde o hei-de abrigar? – perguntou o Eduardo preocupado.
- Não seeiii – disse Anastácia.
- Já sei. Na garagem. Os meus pais não põem lá o carro, está cheia de coisas – disse o Eduardo todo contente pela solução que tinha arranjado.
Xcht...Xcht...
- Vem lá alguém, ouço pasos a pisar a relva – disse o Eduardo.
- É a Catarina e o João – afirmou oEduardo.
- Fica quietinho dentro do casaco Evaristo – disse o Eduardo.
- Brbr... – respondeu o Evaristo.
- Eduardo? Eduardo? – chamaram por ele os irmãos.
- Já vou, já vou, vou à garagem – respondeu o Eduardo, escondendo o dinossauro entre os braços e tentando tirar a chave da garagem do bolso.
- Nós estamos à tua espera aqui ao pé da Anastácia – disse a Catarina.
- Sim e despacha-te para podermos jogar às escondidas - disse o João.
Eduardo dirigiu-se à garagem e com as mãos trémulas conseguiu abrir o portão.
- Agora, Evaristo, vais ficar aqui bem tranquilo e quentinho, vou voltar o mais rápido possível para te fazer companhia.
Depressa fechou o portão e veio ter com os irmãos, o João e a Catarina, mais velhos que ele.
- Porque foste à garagem? – perguntou o João.
- Fui lá pôr a bola – respondeu o Eduardo.
- Vá, vamos jogar às escondidas – disse a Catarina.
- Eduardo, tapas os olhos – disse o João.
- Está bem – disse o Eduardo.
- 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10, já vou! – disse o João.
- Catarina, João? – chamava o Eduardo para vêr se eles respondiam.
- Pluft, Pluft, já te vi João – disse o Eduardo.
- Pluft, Pluft, já te vi Catarina – disse o João outra vez, a querer acabar depressa com o jogo.
- Isso não vale, seu batoteiro, contaste muito rápido e nem deste tempo para nos escondermos – afirmou a Catarina.
- Pois sabem que mais? Não quero jogar – disse o Eduardo correndo para casa.
- Que é que lhe deu? – questionou o João, admirado.
- Sei lá, está um puto esquisito! – disse a Catarina, encolhendo os ombros.
- Vamos jogar os dois à bola- disse o João.
- Está bem – disse a Catarina a caminho da garagem.
- Ssssst...Ssssttt... – sussurava a Anastácia, tentando de algum modo impedir a Catarina de ir à garagem.
A Catarina abriu o portão e entrou à procura da bola que encontrou. Quando estava a fechar o portão, ouviu qualquer coisa, mas pensou ser o barulho das árvores.
- Está aqui a bola João,vamos lá jogar – disse a Catarina e foram os dois para a estrada de poeira, mesmo junto ao jardim.
- Ahhhh....que bom ! – pensou Anastácia.
O Eduardo, mal entrou em casa foi a correr para a biblioteca à procura de um livro sobre dinossauros. Desfolhou, desfolhou e pelo aspecto do ovo e do Evaristo, chegou à conclusão que era um brontossauro e assim sendo só comia vegetais, o que era bom porque assim já podia alimentá-lo.
Devagarinho e às escondidas tirou do frigorifico cenouras, alfaces, couves, etc...
Foi para a garagem pelo outro lado do jardim, tentando que ninguém o visse.
Ao entrar, viu logo o Evaristo que foi ao seu encontro abanando a cauda, já caminhava e parecia um pouco maior.
- Temos de ter cuidado Evaristo, os meus irmãos podem descobrir – disse preocupado o Eduardo.
-Trouxe-te esta comida, prova a ver se gostas – disse o João.
- Splsh...splash... – ouviu-se o evaristo e a comida desapareceu toda.
- Tão depressa? Comeste tão depressa? Como vou justificar esta comida toda que tirei do frigorifico? – perguntou a ele próprio o Eduardo, muito admirado.
O Evaristo saltava, rebolava-se, brincava.
O Eduardo ouviu chamar o nome dele. Estava na hora do almoço.
- Eduardo? Eduardo? – chamava a mãe.
- Já vou, já vou – respondeu o Eduardo apressando-se a fechar a garagem e a correr para casa.
Ao almoço, o Eduardo estava muito calado. Toda a família estranhou, até o pai.
- Estás doente, Eduardo? – perguntou o pai.
- Não, só estou com um pouco de dor de cabeça – respondeu o Eduardo.
- Vais ter que dormir uma sesta e isso já passa – disse o pai do Eduardo que era cientista.
- Se calhar tens febre – disse a mãe pondo-lhe a mão na testa.
- Hum, não me parece, mas deves dormir um pouco, estás cansado – disse a mãe.
Assim que acabaram de comer o Eduardo foi para o quarto lêr o livro sobre os dinoossauros, mas não conseguiu dormir porque estava muito preocupado com o seu novo amigo.
Passada uma hora, o Eduardo foi à cozinha buscar mais legumes frescos e pensou como ía ser difícil alimentar o Evaristo. Só mesmo se fosse à quinta do vizinho durante a noite e tirasse da horta alguns vegetais. Poderia ser que ele não desse conta.
Foi para a gargem com ar decidido.
Os irmãos que estavam desconfiados, seguiram-no.
Assim que o Eduardo abriu o portão da garagem, oEvaristo salta para ele todo contente , mas quando tenta fechar o portão, os irmãos entram e ficam os dois muito admirados e de boca aberta. Afinal, que animal era aquele, como tinha vindo ali parar? Lançaram perguntas atrás de perguntas ao Eduardo, coitado, que tentava a todo o custo explicar.
- Vamos dizer ao pai – disse a Catarina.
- Eu acho que não – disse o João.
- Não. Continuamos a escondê-lo aqui. Já viste se alguém descobre, o mal que lhe podem fazer? – questionou o Eduardo.
- Concordo – disse o João.
- Está bem, eu não digo nada, mas vai ser difícil cuidar dele – disse a Catarina ainda em transe.
- Splsh...splash... – ouviu-se o Evaristo a comer.
- Como ele come! Devora a comida! – disse o João.
- Temos que ter o máximo de informação sobre ele – disse a Catarina, tencionando ir ao computador e fazer uma pesquisa na internet.
- Está bem, é boa ideia - disseram o João e o Eduardo juntos.
E assim decidiram os três irmãos cuidar do dinossauro Evaristo. À noite o João ía à procura de vegetais, a Catarina conseguía o máximo de informação e o Eduardo tomava conta.
Passou-se um mês e o Evaristo estava muito grande e a necessitar de espaço para se desenvolver. Só passeava quando não havia ninguém em casa e os pais dos irmãos estavam a ficar muito desconfiados, achando que os filhos andavam a encobrir algo de muito esquisito.
Até que um dia, os pais chegaram mais cedo do que estava previsto de um passeio, e qual não foi o espanto quando viram os três filhos a brincarem com um animal de pescoço comprido e cauda longa e já quase da altura da Anastácia, a árvore.
- Que se passa aqui? – perguntou o pai.
- Onde foram arranjar este animal? – perguntou o pai novamente, não acreditando no que os seus olhos viam.
- Os dinoussauros não existem! – continuava o pai a falar, a falar, a falar.
- Não é possível, é um brontossauro – dizia a mãe.
- Por isso me desapareciam legumes do frigorifico - dizia a mãe admirada.
- Onde o esconderam? – onde está ele escondido? Digam, digam – continuava o pai.
Os três irmãos, trémulos, contaram toda a história.
- Por favor paizinho, não entregue o Evaristo – pedia o Eduardo.
- Evaristo? Mas que raio de nome para um dinossauro – disse o pai.
- Foi a Anastácia que escolheu – disse o Eduardo.
- Oh filho! Tu não estás bem, a Anastácia é uma árvore, não fála e os dinoussauros extinguiram-se à milhões de anos, não acredito nisto, não estou em mim ou os meus filhos elouqueceram, ou então isto tudo é um sonho – continuava o pai pondo as mãos à cabeça e dando voltas e voltas à volta de si mesmo.
- Vamos para dentro de casa e sossegados arranjamos um plano – disse calmamente a mãe.
- Está bem, vamos todos e o dinossauro também – disse o Eduardo.
Em casa e com calma descobriu-se existir a umas centenas de quilómetros de onde moravam, uma floresta vasta e protegida, na qual ninguém entrava. Era muito densa e havia quem dissesse que estava ensombrada.
- Pai. Eu não quero separar-me do Evaristo – disse o Eduardo com lágrimas no rosto.
- Filho, tem que ser, ou então o Evaristo vai sofrer muito. Cientistas, biólogos, curiosos, gente má, pode vir à procura deste ser tão importante e até matá-lo disse o pai - igualmente triste olhando como o Evaristo se chegava e protegia o Eduardo.
- Escuta o teu pai, Eduardo, e vocês também João e Catarina. O que vocês fizeram poderia ter muito mau resultado e o melhor para o Evaristo é sem dúvida a sua liberdade.
Ficou decidido. Na madrugada do dia seguinte, a famíla e o Evaristo ( escondido na roulotte), foram para essa floresta distante.
Deram voltas e voltas ao chegarem, para tentarem descobrir o melhor sítio para o Evaristo e quando já cansava a procura, ouviram-se os gritos da Catarina.
- Pai, mãe, meninos! Venham cá vêr, um ovo de dinossauro.
Todos a correr viram o inacreditável.
- É mesmo – disseram todos.
- Então quer dizer que os dinossauros existem mesmo, não é só o Evaristo – disse o pai, já confiante.
- Pois não, disse o Eduardo ao erguer a sua cabecita para o céu e a vêr um dinossauro enorme que chegava ao cimo daquelas árvores tão grandes, muito maiores que a Anastácia.
- Olha para esta manada – disse o João.
- Será que nos podem fazer mal? – questionou a mãe.
- Não, não acredito – disse o pai.
- Vamo-nos dirigir para o carro devagar, parece que o Evaristo já encontrou a sua família, vê como está contente – afirmou o pai.
Olhou para trás o Evaristo como que se despedindo de todos.
De repente, virou-se para a frente e seguindo os outros afastou-se calmamente, escolhendo o seu caminho.
Voltaram a casa já tarde, o pai, a mãe, a Catarina, o João e o Eduardo que foi de imediato ter com a Anastácia, para lhe contar como estava triste.
- Se eu soubesse não tinha dito nada a ninguém, Anastácia.
- Nãooo devvvemsoss esconderrr nada do que nãoo sabemoosss, nem podemoosss cuidarrr, porque corrremosss o rrrisco de pôr em perigo quem gostamoosss.
É que às vezzes o que achamos que é melhor para os outroos, não corrrresponde à rrrealidade, porque estamoooss a pensarrr no que é bom para nósss - sussurou a Anastácia com o vento.


O Eduardo tinha aprendido uma grande lição.

31 julho 2006

Eu, Tu e Toda a Gente

Contos Pra Contar

Raizes Minhas

A Ti Maria dos Santos

22 julho 2006

Eu, Tu e Toda a Gente

26 novembro 2005

O meu novo Blog

Novidades e mais novidades!!!

http://maryjopower.blog.pt

01 novembro 2005

Link com e-books

http://www.recantodasletras.com.br

Cantilenas da Meninice














O Arco-Iris da Ritinha

A Rita, rabica,
carapau,
sardinha frita...
Que pula e dança,
e no cabelo,
a franja...
Laço côr de rosa,
o colar é azul,
a pulseira é laranja...
É verde a camisola,
as calças são lilás,
e lá vai ela a cantar,
e tanto se lhe faz...
Este Arco-Iris,
a Ritinha fez pra mim,
num papel qualquer,
mas foi dado com um XI...

Imagem Gabriela Albergaria

Poesia de Silvestre Raposo

Testamento


Nunca vivi de joelhos,
Não fui “moço de recados”.
De frente peguei a vida,
Vi o bem,
Vi o mal,
Vi luxúria e traição.
Vi um amor sincero,
maior que o mundo,
caber na palma da mão.

Fiz poemas.
Pintei quadros.
Escrevi livros.
Aprisionei a ilusão.
Amei e fui amado.
Tive um sonh,o
na palma da mão.

Levo em mim ao partir,
a riqueza do que aprendi.
Deixo palavras,
sem valerem “um tostão”
e sonhos que foram ilusão.

Deixo o amor
maior que o mundo,
que me escapou
da palma da mão.

Poesia de Silvestre Raposo

Amar-te


Amar-te, foi
não ter palavras,
e sentir o silêncio
ao encontrar-te.

Amar-te, é
ficar triste,
por sentires a dor
da distância
e não poder confortar-te.

Amar-te, é
compartir contigo
a felicidade ou a dor,
não pode ser aprisionar-te.

Amar-te, é
ser capaz
de morrer por ti,
mas saber libertar-te.

Amar-te, é
viver um sonho
a teu lado,
e ao nascer do dia,
com beijos
Acordar-te.

Poesia de Silvestre Raposo

Tua mão


Numa tarde de Verão,
quando a angustia
me tomava
e a dor me prendia,
toquei tua mão.

…achei-te
…perdi-me
…encontrei-me

Encontrei em tua mão
a alegria de ver
…nova ilusão,
por outra vida viver
…outra razão,
sem o sonho perder,
numa tarde de Verão
encontrei tua mão.

Poesia de Silvestre Raposo

Para ti


Para ti sou segredo,
que esteve:
em muitos sonhos,
em muitos braços,
em muitos corações.

Sou
Ilusão,
Utopia,
Miragem,
que viaja em tempos
eternos
de eternos amores,
de variado sabor
que partem a alma
e sustentam a dor.

Sou
o suspiro
que te devolve
a esperança,
quando te sentes
perdida e de alma
dilacerada.
….
Mas tu,
para mim,
és muito mais.
És tudo,
pois sem ti,
não sou nada.

Poesia de Silvestre Raposo

Dos Poetas, Poemas e Sonhos


Os Poetas sonham, mas não como os outros comuns mortais, o seu sonho vai para além da vida e da morte, atravessa oceanos de palavras e mares de angústias.
Mas o que são e quem são os Poetas?
Quem pode ousar ir além do sonho?
Poetas, são todos os que dizem o que lhes vai na alma, os que sofrem se não soltam as palavras que lhes surgem na cabeça, sofrendo também, quando as não encontram.
Se porventura o seu sonho é tão intenso, que já não tem em si lugar e há momentos em que as palavras lhe faltam, é o morrer um pouco em cada dia.
Diz isto quem não é poeta, mas que fala daquilo que lhe vai na alma e escreve todos os dias as palavras com que sonha.






Silvestre Raposo

Poemas Coloridos à Solta

Hoje

Hoje escrevo,
com raiva,
com desilusão,
com mágoa,
com paixão...

Hoje pactua-se,
com a inveja,
com o ciúme,
com a subtileza da maldade,
com um punhal de mais de um gume...

Hoje age-se por cobardia,
para atingir um fim,
que é de um só,
com pózinhos de perlimpimpim...


Onde está a palavra dada?
O acordo de principios?


Poemas Coloridos à Solta

Dia de Junho

Imagem de betão,
junta num mar escarpado...
Manchas de óleo presas,
no labirinto das rochas.

Pescadores de linhas difusas,
procurando enrolar o peixe...
No carreto da amargura,
no dia, na semana que passou.

Eis que chegam os mirones,
metidos a senhores...
Óculos de sol e importância,
num status que não possuem.

E o vai-vem das ondas,
que me dão o silêncio...
Que preciso e procuro,
num universo de recordações.

Branca é a espuma,
no colete das gaivotas...
Que procuram um espaço desabitado,
repletas de ternura, olhar lapidado.

É assim a praia em Junho.
Frio, calor, calor, frio...
Num não saber, se ficar se partir,
na esperança que o nevoeiro passe.

Poemas Coloridos à Solta

Decisões

Já não sinto,
saudade no coração.
Já não sinto,
essa recordação...

O tempo passa, o tempo cura...
A marca fica, a vida perdura...

Hoje, decidi nada decidir...
Há decisões que não se tomam...
que não se decidem...
que não se explicam...

Explicações inexplicáveis,
Que deixam apenas fluir
sonhos agradavéis...

Contos P'ra Contar

O Ciclo Preparatório

As instalações onde iria funcionar a Escola Preparatória ainda não estavam concluídas, e como tal tivemos que frequentar as aulas nuns pavilhões pré fabricados no Liceu, hoje chamada Escola Secundária.
Foi verdadeiramente excitante começar a ter escola junto com alunos tão crescidos pois a nossa importância tinha duplicado.
Se na Escola Primária as turmas eram só constituídas por rapazes ou raparigas nesta escola o sistema continuava o mesmo, só se alterando no segundo ano quando fossemos para as instalações onde iria funcionar o Ciclo Preparatório.
O mais estranho na mudança tinha sido o facto de termos muitas disciplinas e consequentemente muitos professores.
Quando tocou a campainha, entramos para dentro da sala com ar muito tímido e aguardamos que a ou o professor chegasse para dar-mos inicio àquele ano escolar.
Enquanto aguardávamos, passei uma vista de olhos pela sala para estudar as minhas colegas e cheguei à conclusão que conhecia quase todas da Escola Primária, à excepção de meia dúzia vindas de não se sabe donde; pensei, no intervalo vou investigar…
Os meus pensamentos foram interrompidos com a entrada da professora de Francês.
Afinal já a conhecia do salão de cabeleireiro, era uma senhora muito alta de cabelo curto muito simpática e com um sorriso bastante amável, ainda bem que a nossa estreia no ciclo foi com ela.
Bonjour! Mon nom est Fernanda, Madame Fernanda. Disse em Francês para nos irmos habituando à língua.
Seguidamente explicou-nos o que era o sumário, ou seja o resumo da matéria que iríamos dar na aula, o horário , o que era o Francês, etc.…fizemos as despedidas e deixou-nos vir embora um pouco antes do toque de saída, dado que era a apresentação e ela compreendia quão diferente era agora a distribuição das aulas para nós.
No recreio, conforme referi atrás comecei a investigar quais e de que escola tinham vindo as minhas colegas novas. Lembro-me de uma em particular a Margarida que viria a ser uma grande amiga minha a quem nós pusemos mais tarde o nome de pulga eléctrica. Ao ganhar algumas novas colegas também perdi outras tantas como a Laura, a Paula Carvalho, a Paula que foram estudar para outras terras, embora com a Paula eu não tenha perdido completamente o contacto como mais tarde vos irei contar.
Seguiram-se todas as outras apresentações que estavam destinadas no nosso horário ou seja de Matemática, Português, História, Ciências, etc.…mas embora também conhecesse alguns dos professores não gostei na aula especialmente de nenhum, pois achava-os um bocado frios para connosco. Como tudo era diferente!…
Quando iniciei o Ciclo Preparatório comecei também com as aulas de música particulares para além daquelas que tinha na escola, é claro. O instrumento que eu desejava tocar era sem dúvida a viola, mas o professor não ensinava e tal como os colegas de música, escolhi acordeão.
No principio, a aprendizagem foi muito aborrecida, pois o professor começou a ensinar o solfejo, a teoria que explica a música: as notas que a compõem e como se faz a sua leitura, só mais tarde iniciamos a practica no instrumento.
Foi nestas aulas que descobri um dos melhores amigos de toda a minha vida, o António Manuel mais conhecido pelo Tó.
Bem cedo como podem constatar vi-me confrontada com a morte, primeiro foi o professor de ginástica que faleceu e seguidamente o professor de música que morreu num desastre de viação quando se deslocava para nos dar aulas. Estas, só duraram cerca de dois anos tendo eu desistido porque não queria ter outro professor, fiquei apenas com o ensino musical da escola.
Nesta altura fui a alguns encontros de escuteiros e ainda cheguei a inserir-me num grupo mas acabei por desistir pois não gostava que as actividades fossem tão impostas como de tropa se tratasse, ia contra a minha necessidade de liberdade embora com regras, pois não concordava com a anarquia que para mim significava o caos.
Já se sentia nesta altura um cheirinho a mudança embora ainda faltasse cerca de um ano para se dar o 25 de Abril. Pode parecer-vos muito esquisito eu falar muito sobre a Revolução dos cravos mas esta veio revolucionar todo um modo de vida se não a própria vida de todos os Portugueses de então, e todas as gerações vindouras.
Nesta altura os soldados Portugueses iam para a chamada guerra do Ultramar(todas as colónias Portuguesas de então: Angola, Moçambique, Guiné, Cabo Verde, Timor, S.Tomé e Príncipe, todas em África, o grande Continente) esta existia porque essa colónias desejavam a Independência e tinham grupos de guerrilha para defenderem esses ideais de Liberdade.
Todas as famílias em Portugal tinham pelo menos um familiar nessa guerra estúpida como são todas as guerras, e como a minha família não era excepção, o Dinis hoje meu cunhado, partiu para Angola. Teve muita sorte pois não combateu no mato e esteve quase sempre perto da cidade; rádio telegrafista ,enviava e recebia mensagens não tendo de andar com a arma em punho. A maior parte dos nossos soldados trouxeram mazelas dessa guerra; algumas eram exteriores tal como falhas de braços pernas
ou olhos por causa do contacto com o rebentamento de minas; outras eram internas ou seja do fórum psicológico e muito mais difíceis de curar porque não se vêem, os restantes acabaram por perecer nessa guerra. Lembro-me de um episódio a que assisti na rua com um soldado recentemente chegado da Guiné, onde diziam a guerrilha era mais acesa e onde os turras assim chamavam aos soldados negros que defendiam a sua terra com unhas e dentes. Havia festa e como é tradição estoiraram foguetes( estoiraram dinheiro pois não vejo interesse nenhum neste costume que por vezes trás tantos dissabores, ficando as pessoas que os põem sem dedos, mãos como aconteceu a um menino meu vizinho que teve a curiosidade de agarrar numa cana de um foguete que ainda não tinha estoirado) de imediato esse soldado atirou-se para o chão no meio do passeio e colocando-se numa posição de ataque com a arma imaginária em punho sonhou derrotar todos os inimigos disparando á queima roupa. Fiquei como que paralisada, não imaginava que as pessoas pudessem ficar tão transtornadas por causa de uma guerra, na realidade ninguém imagina, é cruel demais…Nesse instante ouvi a ambulância e o triste soldado foi levado para dentro com um colete de forças a impedir-lhe os movimentos. Que sociedade esta que trata os seus filhos assim sem consciência nem piedade obrigando-os a ir para uma guerra muitas vezes por preconceitos costumes ou religiões!…
Deste ano escolar não tenho nenhuma recordação especial, apenas a ideia da adaptação a uma nova escola com rendimento médio escolar o que é próprio por causa da mudança.
Chegaram as férias e com elas o Verão e como sempre a Zizi iniciava as idas para a piscina e o treino da natação. Ah! como sabia bem respirar outra vez…
O segundo ano começou de um modo inesperado; em primeiro lugar fomos para as novas instalações, que linda que era a nossa escola nova!…, em segundo lugar as turmas passaram a ser mistas, o que me dava uma sensação de bem estar porque achava os rapazes muito mais camaradas que as raparigas e a turma apresentava-se bem mais unida.
Para inaugurar a Escola , na aula de música ensaiamos o Hino Nacional para recebermos o Sr Presidente da República (Pr Dr. Américo Tomás mais conhecido por corta fitas visto as suas funções, nos últimos anos e por ser cargo já vitalício , não constarem de mais nada , repare-se que o povo não tinha direito a voto à mais de trinta anos) enfeitou-se a escola de flores e os elementos do coro tinham que estar de bandeirinha na mão como é da praxe Apesar de tudo havia grande expectativa, pois nunca tínhamos visto de perto um Presidente e além disso como era Almirante vestia-se sempre de branco com a farda da Marinha que pessoalmente acho bem bonita.
Mas o momento passou depressa e as aulas recomeçaram em força. Se no primeiro ano do Ciclo transitaram da Escola Primária bastantes raparigas já colegas, no segundo ano vieram-se juntar alguns rapazes pertencentes também a uma turma de bastante bom rendimento escolar. Entre os quais o Tó personagem que já falei anteriormente, o Álvaro, o Luís, o Luís Pedro, o Rogério , o Albino, enfim eram tantos que nem dá neste momento para fazer a lista.
As apresentações aos professores fizeram-se de forma rápida pois depressa tínhamos os professores todos, Lembro-me em particular da professora de História a D Lídia, de Matemática D. Manuela , de música a D. Dulce, de Ginástica a Diana, etc.…
Esta Escola era bem mais longe de minha casa que a anterior e por vezes quando tinha pouco tempo de intervalo para almoço precisava de comer na cantina , o que era uma aventura Fazíamos muitas partidas uns aos outros mas o mais interessante era transformarmos aquela cantina numa espécie de restaurante , como nos sentíamos importantes…
As cem lições começaram-se a suceder nas várias disciplinas e os professores deixavam-nos fazer uma festa e esta incluía representações teatrais com textos inventados por nós, danças, canções., etc.… claro está que eu era uma das organizadoras pois as artes sempre foram uma das minhas paixões.
O meu rendimento escolar tinha melhorado em relação ao primeiro ano mas estava um pouco aquém das minhas capacidades, e o que mais contribuiu para isso foi o inicio da doença do meu pai. Embora a minha família tentasse de alguma forma esconder o que se passava, era impossível não notar que o bem estar económico tinha diminuído um pouco que a meio da noite havia pessoas a pé, que o meu pai aparentava cansaço.
Enfim acabara o segundo ano , tinha transitado para o terceiro ano do liceu e outra aventura iria começar pois chegara a Escola Secundária.

09 outubro 2005

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