24 julho 2005

"Illustration"www.vascocolombo.com


"Reconhecer um lugar"www.gabrielaalbergaria.com


"A minha Duna"www.zacariasdamata.com

15 julho 2005

A minha Sogra e as Outras

Conversas de Telemóvel em terras do Baite D’Aqui Embora.

Avó Clô: Oh Tono!
Estamos a precisar mudar a alcatifa.
Isto tá cheio de pó e o Carlinhos fica com asma.
Que acha que deveríamos colocar aqui?

Carolina: Oh Avó, sinceramente, o meu pai é que sabe, ele é que percebe de madeiras.

Avó Clô: Mas o Tono é que é Engenheiro.

Tono: Se calhar havia uma alternativa mais barata, que era pôr uma espécie de
corticite no chão, só que não dá aqui, em Baite D’Aqui Embora, porque fica à
pobre.
Fica com ar de pobre.

Entretanto toca o telemóvel...

Avó Clô: Oh Alfredo, por acaso não sabes que piso hei-de pôr no chão da minha sala,
que seja assim em conta?

Do outro
lado Oh Clô, és tu? Clô?Ai estas linhas...estão cruzadas...eu não conheço
nenhum Alfredo, se calhar enganei-me

Avó Clô: Lainha?Lainha=?és tu filha?Ai!!!pensei que era a Fifi.

Avó Clô: Estamos à tua espera pra vires cá jantar.
Estava mesmo agora a falar nisso.

Lainha: Credo! O Telemóvel tá a dar choque! Ai credo Clô, vou desligar.

Avó Clô: Pois Tono, se calhar era melhor eu falar com a Nini e perguntar lá na fábrica
qual o piso que hei-de pôr aqui.
Eles têm gente que vem cá colocar.
Senão pergunto ao Alfredo.

Tono: Pois...eu acho que a D. Clô até devia telefonar ao Presidente da Republica, a
ver se ele dispensava pessoal da Assembleia, visto eles já não estarem a fazer
lá nada para virem cá colocar o piso.
Eles até poderiam tirar de lá algumas traves do chão.

Carolina: Oh avó, já lhe disse que o meu pai é que percebe disso. Ele pergunta lá na
fábrica, os preços e tudo.

Entretanto toca o Telemóvel novamente...

Avó Clô: Carolininha?
Onde é que eu atendo?
Este telemovel é novo e eu ainda não sei...

Carolina: É aqui avó!
Tá a vêr?
Pronto já está.

Avó Clô: D.Alcina?então como está a Sra?. Eu estou bem graças a Deus.

D.Alcina:Oh D. Clô, diga-me uma coisa!
Tem ouvido hoje por aí uma musica?
Já disse ao meu Carlos, anda uma musica por todo Baite D’Aqui
Embora; onde quer que eu vá a musica vai atrás.

Avó Clô: Olhe eu não tenho ouvido nada.

D. Alcina: É muito estranho realmente
Onde quer que eu vá ouço a musica!

D. Alcina: Por acaso o meu Tono não está aí?

Avó Clô: Está, está.
Até estava a falar com ele a propósito da alcatifa. Não se pode com o pó.
Tenho que falar com o Alfredo sobre o piso.

D. Alcina: Pois a D. Clô fale, até pode ser que ele lhe ofereça um...ai!esta musica é que
não se cala...Ai! Mas parece que já se calou.
Oh D. Clô, diga ao meu Tono para vir aqui a casa que eu preciso que ele tire
a musica da minha cabeça ou de Baite D’Aqui Embora, porque eu já estou
cansada da ouvir!

Avó Clô: A mim? A D. Alcina é que telefonou!

D. Alcina: À musica, D. Clô.

Avó Clô: Eu digo, ao Tono, então!
Até logo.

Avó Clô: Oh Tono, a sua mãe ligou a dizer pra ir lá a casa, pra ir desligar o rádio, pois
ela não consegue.

Carolina: Oh avó, sinceramente!eu não te disse pra falares ao meu pai sobre o piso?

FIM

Contos P'ra Contar

AS FÉRIAS



Zizi no Hospital



Podem achar estranho o titulo do Conto falar de férias e seja referida a palavra “hospital”, mas é simples de compreender, pois estive internada quando me encontrava de férias.
Tinha cerca de dez anos de idade quando conheci o Algarve e fiquei encantada com a paisagem pois era uma mistura de campo e praia com um mar delicioso e uma temperatura quente. Os meus pais alugaram um apartamento conjuntamente com mais meia dúzia que constituíam um condomínio com piscina o que tornava tudo muito mais interessante pois permitiu-nos conhecer alguns amigos.
Os meus pais encontravam-se um bocado cansados da viagem pois tínhamos andado em Lisboa onde estivemos cerca de uma semana em casa de uma tia minha e mais alguns dias no Alentejo, em casa da minha irmã mais velha.
Não tinha já referido que tinha um irmão pois ainda não se revelado importante a sua existência, por ser mais novo que eu três anos. A minha irmã mais velha já se tinha casado e encontrava-se a viajar com o marido e nestas férias, apenas saímos os meus pais eu e o meu irmão. Logo nessa tarde conheci os meus companheiros de piscina ou seja, o Sérgio, a Inês, a Tatiana, a Catarina e o Tomás. O meu irmão era um bocado traquina e eu por vezes tinha a espinhosa tarefa de tomar conta dele o que na minha idade era um bocado chato porque ele como tinha sete anos armava-se em macaco como é típico em meninos de sete anos e isso envergonhava-me. Mas nem por isso era muito mau de aturar pois gostava muito de ver desenhos animados que davam na televisão e com o tempo ao conhecer na piscina meninos da idade dele deixava-me mais livre para eu conseguir algumas amizades novas.
Tal como acontecia com os nossos vizinhos de férias, dirigiamo-nos para a praia apenas de manhã, íamos cerca das dez horas e voltávamos perto das treze horas.
A minha mãe construía connosco castelos na areia e nadava no mar. O meu pai passeava pela praia onde nos levava até às rochas para apanharmos conchas e outros tesouros do mar.
De regresso, como estava muito calor aproveitávamos sempre para nos refrescar na piscina pois estava muito calor, enquanto a minha mãe depois de um mergulho rápido, fazia o almoço. Depois chamáva-nos e servia o almoço, que nós comiamos com grande apetite para seguidamente acompanharmos os meus pais a dar uma volta à hora do café ou simplesmente dormíamos uma sesta. Após a digestão íamos novamente para a piscina, mas desta feita entre nadar, dar saltos e mergulhos, passavam quatro ou cinco horas e precisávamos de um banho quente pois estava chegada a hora do jantar. A maior parte das noites aproveitávamos para dar um mergulho na multidão e para isso bastava irmos até Albufeira, aí fazíamos algumas compras e eu e o meu irmão pedíamos algumas coisas da praxe. Houve duas recordações que não esqueci mais, uma foi para o meu irmão, um boneco de pendurar no quarto que era um sapo e para mim, foi fazer uma trança no cabelo com linha multicolor que me deixou muito vaidosa.
A primeira semana correu como o previsto, sem grandes confusões e bastante saudável e cheia de brincadeira para nós que nos divertíamos imenso a saltar, mergulhar e andar de barco e colchão na piscina.
Mas no Sábado à noite quase que não jantei e passei o tempo a queixar-me de dores de barriga e má disposição geral. A minha mãe referiu que devia ser por andar demasiado tempo na água e não ter feito a digestão como devia. A verdade é que a situação agravou-se durante a noite e acordei com arrepios de frio e a chamar pelo meu pai, por ser mais fácil de acordar. Ele acorre quase de imediato e seguidamente a minha mãe e pôs-me um foguete, daquelas coisas que dão por nome de supositórios e eu acalmei e após algumas voltas consegui adormecer. No dia seguinte, ainda me encontrava com dores e alguma febre e dirigimo-nos todos ao centro de saúde mais próximo onde após de termos esperado algumas horas, fomos atendidos por um médico que disse eu ter uma virose da praia e que bastava apenas controlar a febre. A minha mãe saiu do centro muito descontente e nada convencida com o que tinha dito o médico, pois as mães são para os filhos médicas a sério.
Fomos à farmácia e aproveitamos para almoçar num restaurante pois não havia tempo de ir a casa almoçar. Eu encontrava-me sem apetite e tinha dores abdominais.
Após o almoço fomos para casa e nesse dia tive ciúmes do meu irmão, pois tinha ido para a piscina com o meu pai e eu tinha que ficar ali fechada.
O quadro clinico agravou-se bastante nessa noite e a febre e as dores aumentaram o que fez com que ao outro dia de manhã os meus pais, após alguns cochichos resolveram contactar com uma tia que vivia ali perto e era médica. Já tínhamos tentado contactar com ela na semana anterior, mas ninguém se encontrava em casa pois ela tinha ido a Lisboa buscar os três filhos que tinham chegado há pouco de Inglaterra. Conseguimos finalmente encontrarmo-nos com ela e foi confirmado aquilo que a minha mãe desconfiava desde o principio, ou seja, apendicite. Seguimos mal pudemos para o hospital em Faro e fui vista por uma pediatra que mandou fazer análise à urina e ao sangue para confirmar o diagnóstico. Fiquei siderada pois nunca tinha feito nada daquilo e estava cheia de medo, mas a minha mãe e a minha tia tinham sempre palavras de confiança e coragem o que permitiu enfrentar tudo aquilo. Após uma hora de espera cheia de sede pois não me deixavam sequer beber água, chegaram os resultados da análise, bem como o médico cirurgião que me apalpou a barriga e disse que eu tinha mesmo de ser operada. A minha mãe explicou-me passo por passo o que ia acontecer e depois de me porem soro na mão, colocaram-me na maca e levaram-me para a sala de operações. Esta era muito fria e viam-se vários médicos e enfermeiras todos vestidos de verde claro, com barretes na cabeça como fossem padeiros e máscaras para nos protegerem dos micróbios. Os meus pais tinham-me acompanhado até à porta e despediram-se de mim com um simples “até já” dando-me força e coragem para enfrentar tudo aquilo. A minha tia entrou comigo para assistir à operação. Puseram-me anestesia no soro e mandaram-me contar até dez o que julgo não ter feito, pois adormeci quase de imediato.
Quando acordei tinha os meus pais ao pé de mim, ambos com um sorriso nos lábios e todos embevecidos, pois a operação tinha sido mais complicada que uma apendicite, tinha havido perfuração do intestino e eu tinha estado em perigo de vida. Mas tinha corrido tudo bem até ali e a minha mãe ficou a fazer-me companhia durante toda a noite. Sei que não dormiu e que ficou sempre atenta a todas as minhas reacções e chamamentos e muito preocupada comigo.
Chegou a manhã por fim e o médico veio visitar-me e como estava tudo a correr muito bem, mandou que eu me levantasse o que eu fiz prontamente, sem tonturas nem enjoos. Só me senti algo cansada e doía-me um pouco a cicatriz.
Sentada numa cadeira perto da cama pude conhecer finalmente os meus colegas de quarto, do lado esquerdo encontrava-se um rapaz de onze anos chamado Jim e era escocês, do lado direito encontrava-se uma menina de oito anos chamada Teresa. Passado algum tempo chegam os pais do Jim e começaram a falar com a minha mãe e ela soube que o Jim tinha tido uma gastrenterite e a Teresa tinha uma infecção num rim segundo tinha dito a bisavó dela. Todos se encontravam de férias e tiveram de as interromper por causa da doença.
Nesse instante chega uma das educadoras, a Ana, que começou a dizer que havia uma sala de convívio na pediatria e que todos os meninos iam assistir a uma surpresa. Claro que eu quis deslocar-me de imediato para a sala e para isso fui acompanhada pelo soro que estava pendurado num carrinho. Custava-me muito andar mas fazia-me muito bem e a minha mãe acompanhava-me caso eu tivesse alguma dificuldade, passado pouco tempo chegam o meu pai e o irmão e eu fiquei muito contente. O meu irmão ainda pode assistir ao espectáculo dos palhaços que era afinal a surpresa que a Ana tinha falado.
Começaram a deixar-me beber alguns goles de água e a seguir de chá o que me soube às mil maravilhas mas não me deixaram comer nesse dia nem no seguinte.
O meu colega escocês foi embora e deu lugar a um rapaz muito falador, da minha idade e que era algarvio e a bisavó da Teresa foi-se embora e veio a mãe dela , uma sujeita muito esquisita, da qual temos coisas a contar que sucederam essa noite. A mãe da Teresa era viciada em droga e por isso tinha um comportamento fora do comum, entre ter levado um ferro e estar a passar os vestidos em pleno quarto de hospital até estar completamente zonza ou seja com uma “pedrada” e fumar no quarto e na casa de banho. Quem não achava piada nenhuma era a minha mãe que de imediato chamou a enfermeira e a informou do comportamento daquela senhora. Ela não media a temperatura à filha quando era solicitado, não se preocupava com o banho nem com a hora das refeições, etc.…Por isso um aviso evitem a droga pois a senhora não conseguia tomar conta dela própria quanto mais da filha. Não admira ser a droga flagelo do século. Nunca experimentem sequer pois assim é impossível o vicio.
A minha recuperação foi fantástica e conheci os meninos do quarto ao lado, um chamava-se António e o outro Manuel e já lá se encontravam algum tempo pois ninguém sabia o que tinham. Um vivia com os pais e irmão, o outro vivia numa instituição para rapazes, em Faro, o que o tornava um bocado triste, mas a minha mãe como era divertida jogava sempre connosco às cartas e ao poker de dados o que às vezes dava origem a risota e a tal brincadeira que aquilo nem parecia um hospital.
Com tudo isto saí na Sexta-feira seguinte e fui para casa da minha tia, onde estava a ser vista por uma médica, que me tratava de fazer o curativo. Sentia-me muito feliz por sair do hospital e bem de saúde e quando voltei na segunda-feira e na quarta-feira seguinte para o médico me tirar os pontos, senti uma grande tristeza por nem todos terem a minha sorte e não saírem dali comigo
A minha estadia no hospital foi o melhor possível atendendo às circunstâncias, mas pela primeira vez compreendi o que é estar fechado, doente, sem perceber o que pode acontecer e o perigo que corremos, e tudo perde importância comparando com a saúde.
Os meus pais para me compensarem passearam imenso comigo compraram-me uma mochila para ir para o ciclo preparatório, deram-me carinho e estabilidade e tive sempre a companhia do meu irmão que preocupado comigo, volta e meia dava-me beijos e abraços, até em demasia.
Nunca mais vou esquecer aquelas férias bem como as pessoas, que me trataram. Durante os anos que seguiram fui sempre visitá-las agradecendo aquilo que fizeram por mim, bem como não esqueci mais o apoio que recebi dos meus tios e primos e as amizades que fiz com os meus amigos doentes, ainda hoje me escrevo com eles.

Poemas Coloridos à Solta

Memória e Sensação

Dia quente de paixão,
Noite fresca de silêncio,
Odor a incenso,
Queimando o coração...

Uma lágrima desliza,
Numa face triste,
Pelo amor que existe,
Numa fresca brisa...

Que passa,
Mas que fica,
A memória,
E a sensação,
De uma imensa glória...

Poemas Coloridos à Solta

Tenho um rio...
Um momento que é de cada um...
Toda a gente tem um rio...
Um percurso de vida a percorrer até ao mar...

As minhas emoções estão nesse rio...
Todos os rios se cruzam um dia...
Por isso todas as sensações se cruzam...
E assim talvez consiga alguém reencontrar..

E, tenho um mar...
E. toda a gente faz parte...
E, todas as memórias, e emoções...
E, todos os momentos e sensações...

Quem sabe, um dia...

Poemas Coloridos à Solta

Aquele meu Mar

Apetecia correr,
Correr sem parar...
À noite, na areia...
Vendo a espuma...
Daquele meu Mar...

Pondo o “a” atrás do Mar...
E amar a vida, o sol, o luar...

Numa rocha sentar...
Vêr uma luz ao fundo...
descansar...
Deste meu mundo...

De espera...
De saudade...